
Então, não se conhece limites, tão importante se torna a vida, sente-se a vontade de viver até os 200 anos a sensibilidade aumenta, percebe-se a beleza e os detalhes de cada coisa, dorme-se bem, tem bons sonhos acorda disposto, todos parecem interessantes, é assim a visão do mundo, pelos olhos de um apaixonado, é baseando-se nessas sensações sem sentidos e melancólicas que toma forma a história do coração partido de Tom.
Tom poderia ter feito muitas coisas diferentes no dia 15 de janeiro de 2007, seria um dia perfeito talvez, ou quem sabe não, a seqüência de fatos já se encaminhava para tudo isso, talvez fosse a necessidade do amor se mostrar, na hora em que passou pela porta daquele bar, Tom não era nenhum bêbado pra ser parado por um bar logo de manhã, no entanto, o jovem Tom teoricamente não deveria estar ali naquela hora, mas ao mesmo tempo era a hora e lugar perfeitos para duas almas gêmeas se encontrarem, corações entrariam em chamas, momentos inesquecíveis e todo tipo de coisa melosa pra se dizer num romance em uma hora dessas, mas não serei tão mal com vocês caros leitores, o titulo do livro, ele mesmo não engana, sabemos que por mais feliz que o momento possa parecer, a seqüência de fatos nos levará para uma desgraça que passará por drogas, armas, roubos, violência, e claro: corações partidos..
Ninguém dava bom dia, nem sorria, a Senhora Prestativa fingia varrer a calçada pra impressionar o chefe, como fazia todas as manhãs, um clima meio chato hoje no ambiente, não era pelos montes de lixo e vinho que ninguém limpou, "a senhora prestativa devia estar varrendo isso, cadê o Tom pra varrer essa merda?” Esse era o chefe fazendo uma pergunta retórica, Havia despedido o Tom a alguns segundos,quase dava pra ver ele saindo pela porta, andando pela rua, precisamente no meio dela, não se tratava de suicídio, como a fama de Tom poderia sugerir, esse era o exato momento que tom atravessava a rua e ía andando até chegar em um outro bar, não, Tom não estava prestes a encher a cara para afogar as mágoas, pois Tom jamais bebia por desgosto, mas aquele bar ele nunca havia notado, talvez porque nunca tinha voltado pra casa a pé naquela hora, mas isso não mudava o fato de que o bar estava lá e Tom parou diante da porta aberta olhando para a placa da frente estava escrito “Bar Circular”, um nome idiota, eu sei, mas eu devo contar a historia como ela é, Tom entrou no bar olhando ao redor e foi até o balcão: " me dá um café, porra!" A atendente se virou e nesse momento os pombos esvoaçaram do telhado e ganharam o céu azul, as flores de verão se abriram mostrando um vermelho vivo, para a multidão de pedestres que cruzavam a calçada e nem as notavam, tudo desmoronou e se reconstruiu mais perfeito na vida de Tom, seu coração batia com objetivos maiores e milhões de imagens de uma vida perfeita ainda para acontecer passaram diante de seus olhos, tudo acontecia em câmera lenta, como num sonho, e era mesmo em câmera lenta, dava pra notar no gato da casa da frente que pulava de um muro para o chão para agarrar um pombo filhote, era mesmo um dia surreal, aonde já se viu um pombo filhote? e ainda na calçada a mercê de um gato que pula em câmera lenta...
Talvez eu não esteja me expressando bem, pois esse é o momento cume da história, aí que começa nossa linda história de roubo, morte, violência e claro.. corações partidos...milhões deles.
Mas por enquanto não se preocupe, você só precisa saber alguns detalhes sobre nosso... “herói”. Tom tinha uma mente muito ativa e criativa, e também era muito observador, gostava de lembrar-se dos sonhos e passou bastante tempo estudando técnicas para não esquecê-los, uma delas era acordar assim que sonhava, sair da cama, pensar, anotar palavras chaves, parece mesmo uma obsessão de alguém perturbado com tendências suicidas, odiava quando via o sonho passar alienadamente e ele não percebia que era um sonho, isso era muito raro de acontecer, pois quase todos os sonhos de Tom eram lúcidos e ele podia fazer o que quisesse, não pense você que ele fazia coisas de caráter imoral e sexual, isso ele fez bastante nos tempos de criança hoje em dia ele encarava o sonho como sendo mais importante do que sua vida, não há dúvida de que era mais interessante. Mas Tom não era só o cara que varria o bar Leste, na verdade era sim, ele não passava disso, mas quando tom se libertava do emprego, ele assumia uma forma diferente, ia pra casa não mais pensando nos problemas, e as idéias começavam a rodar na sua cabeça como se fosse uma máquina pronta par fabricar arte, era um hobbysta em muitas coisas, ele gostava de pintar influenciado pelos sonhos que tanto prestava atenção, as vezes ele escrevia histórias inteiras baseadas em sonhos, dava a idéia de que ele era um maníaco obcecado pelo mundo dos sonhos, de fato, não se sabe, o contrário ainda não foi provado. Alguns dos livros e histórias ele doava para um amigo que conseguia imprimi-los e vender no trem, Tom não cobrava nada por isso, gostava de escrever e ajudava o amigo.
Sobre a atenção aos detalhes que Tom possuía, era bem peculiar, por exemplo, era o único que notava a sujeira nas garrafas velhas do bar, ou talvez os outros tivessem preguiça de notar algo tão trabalhoso. Assim Tom viu uma teia de aranha, naquela garrafa secular que estava lá desde tempos remotos quando os dinossauros ainda caminhavam sobre a terra, Tom puxou o banquinho, “ Vou limpar.. É..”
Ele subia com dificuldade e no teto havia uma corrente onde ele se apoiou e se puxou pra cima, parecia uma cena de suicídio á moda antiga, isso reforçava a imagem de louco obcecado pela morte, no entanto Tom estava apenas tentando alcançar a garrafa velha e o inseto que habitava ali,uma mão segurava a corrente e se pintava de pó cinza, a outra, a que não podia escrever segurava o pano e batia o pó quase inutilmente, foi numa dessas batidas que Tom sentiu a cadeira balançar e sua mão que não escreve acertou com força a aranha e a garrafa, de repente soltou a corrente, a cadeira deu um pulo de lado e voltou, depois balançou de novo e dessa vez deitou no chão, depois disso só se via o pano descendo com o grande objeto que descia de lado, o pescoço bateu na quina do balcão, e de súbito jorrou o tão conhecido líquido vermelho, escuro, quase negro, se espalhou pelo chão do bar, penetrando nas frestas do piso de tacos, irrecuperável perda, foi o que o chefe pensou ao contemplar a cena dramática pintada de vermelho e decorada com cacos de vidro, uma vida de 30 anos jogada fora, que tragédia, todos ficaram boquiabertos, inclusive Tom que não sofreu nenhum arranhão, ao invés disso pulou da cadeira e caiu de pé, mas não a tempo de segurar a garrafa, essa que caiu na quina do balcão e quebrou o "pescoço", o chão pintado de vermelho soltava o cheiro de vinho de marca, por pouco o sangue de Tom não se juntou ao vinho, o chefe quase se pôs a lamber o chão pra não desperdiçar tamanha relíquia, a frase saiu quase automática:
- Está despedido!!
Foi atravessando a rua e notou um papel quase voando ao vento, se abaixou e abriu, era uma espécie de bilhete, nele estava escrito, "olhe pra sua direita", ao olhar só viu os faróis se aproximando, "que filme engraçado.. é.." Tom deu um pause no filme e desligou o monitor, ainda pensava na garota do bar, tão parecida com ele, será que ela também quebraria uma garrafa? Olhou o relógio, 12:34, sua hora preferida, ele sempre olhava para o relógio quando dava essa hora, pensou em dar uma volta, apenas desculpa para ir até o bar, estava despedido não fazia sentido ficar em casa mofando, iría ao bar, veria ela de novo, falaria com ela, chamaria pra sair, jantar dar uma volta no parque, depois a pediria em namoro, ela aceitaria, faria planos, noivado, visualizava as imagens como se fosse passado, ele tirava do bolso a caixinha aveludada com a aliança e ela diria "sim.. aceito..é.." com aquela linda voz que ele ainda não tinha ouvido, casaria num campo florido, odiava igreja, ela também odiava, imaginava ele, passariam a lua de mel na Europa e beberiam vinho no sul da França numa tarde de céu encoberto e sol ameno, teriam 4 filhos, envelheceriam juntos e seriam felizes para sempre, "é.. então vou dar o primeiro passo.."
O plano de vida já estava arquitetado para Tom, e com certeza também para a garota do bar, Tom sabia que ela pensava igual a ele então certamente não precisava avisar a ela. Mas que surpresas guarda o destino, em meio a todos esses devaneios tom descia a rua mergulhado nesses pensamentos, não podia se lembrar do rosto dela, é sempre assim para a visão de alguém apaixonado, apenas se viaja no pensamento e se esquece que a qualquer momento a morte e a desgraça bate a porta destruindo tudo de bom que existe e deixando os corações partidos sangrarem pelas esquinas, foi numa dessas esquinas que Tom distraído, atravessou a rua com pressa, não notou o caminhão que ultrapassava pela contramão, dizem que ele não sentiu dor, como podem ter certeza eu não sei ao certo, aposto que nenhum deles já foi atropelado por um caminhão de lixo da Emlurb em alguma tarde de verão, a cabeça esmagada de tom espirrou restos de massa cinzenta pela rua e foi parar alguns pedaços na porta do bar onde habitava seus sonhos.. e assim acaba a balada do coração partido..
Teria sido assim, mas não passava de um desses sonhos que Tom não tem consciência, e ainda por cima ele teve que correr, e ele odeia correr nos sonhos, olhou pro relógio eram 12:34, sua hora preferida, saiu pra dar uma volta e pensar em como pagaria o aluguel.
Andando pela rua foi imaginando aonde seria possível vender um rim, ou se seria uma boa idéia roubar o cabelo de algum jovem rockeiro e vender para algum salão de beleza, talvez entrasse para o tráfico de drogas ou prostituição, qualquer opção simples e fácil que qualquer um faria numa hora dessas, chegou na esquina do sonho mas dessa vez não foi mutilado pelas rodas do caminhão, ao invés disso atravessou e entrou no bar.
O bar estava vazio, com exceção é claro dos clientes, atendentes e pessoas sentadas na mesa, Tom imaginou que a garota também havia sido despedida por quebrar uma garrafa e agora estava dando uma volta ou estava em casa dormindo e sonhando com a morte.
Voltou para a casa, a chegada era tensa, sempre havia o risco de encontrar o dono da casa cobrando o aluguel, não foi dessa vez, deixou as janelas fechadas e a musica baixa, " assim o seu barriga vai achar que eu estou trabalhando", preocupação inútil, ele poderia tocar a campanhia quando quisesse cobrar.
Spunk tentava alcançar uma bola vermelha debaixo da escada, sem conseguir tentou entrar lá de baixo, se sujando todo de lodo..
-Spunk! sai já daí!
O gato saiu correndo pra dentro de casa com as costas esverdeadas, Alice abriu o portão e foi entrando dentro de casa com a decepção no rosto, "despedida?", mal podia acreditar, nem mesmo sabia porque, não ia pensar nisso agora, foi pra dentro ainda com ódio daquele sujeito mal educado, teria sido talvez por isso a demissão, o sujeito agiu mal educadamente, ela fingiu não ouvir e se virou limpando os copos sem olhar a cara dele, o sujeito ficou paralisado com aquela cara de tonto, devia ser retardado, logo o seu Joércio ficou falando: "Alice, porra! não tá ouvindo o cliente?". Daí ela fingiu não ouvir os palavrões que ele disse e logo pôs o café, mas o rapaz tava paralisado com aquela cara de tonto... "Moço.. moço.. ela falou: moço! o café.. o seu café!"
A mesma cara de tonto e boca aberta, seu Joércio veio encaixando o pano no avental e falando: "ahh o senhor me desculpe viu.. toma o seu café.. com açúcar ou adoçante?".. Alice saiu de perto e o moço ficou olhando pra ela, levou as mãos ao café devagar e depois olhou pra o Joércio, pegando o café e levando até a boca.
Isso não parecia motivo suficiente pra demissão, mas Alice já tava estressada com aquele trabalho, então não teve outra, quebrou o pau com o Joércio.
Agora Alice chegava em casa numa hora incomum e a louça estava lá entulhada, Spunk em cima da pia tentava beber água das louças, ela nem olhou pra louça, queria mesmo era dormir, deitou-se na cama, o sono não vinha, decidido tomar um banho quente, foi para o banheiro e decidiu que hoje ela iría usar a banheira, algo incomum, a ultima vez foi a anos e Alice se sentiu estranhamente se afogando naquela banheira, desde então ela comprou um patinho de borracha á mando da sua mãe, "é pra isso que serve.. é.." Alice pensou olhando para a figura amarela boiando na água rasa, pensou em ouvir música enquanto tomava banho e fumava na banheira, pos o rádio por perto e mergulhou, a banheira já estava cheia, acendeu o cigarro e logo ouviu um miado, era o spunk entrando no banheiro, começou a subir pelas coisas e derrubava a maioria delas, Alice nem abriu os olhos, spunk decidiu brincar com o rádio que fazia um chiado estranho quando ele se aproximava, agora nessa parte você já deve estar imaginando o pior, e se imaginou parabéns, pois esse é o tipo de acidente doméstico que pode acontecer em uma história de desventuras como essa, o rádio bateu na quina da banheira antes, e se abriu, expondo os fios faiscantes que ao mergulharem na água fizeram da cena um show pirotécnico, nem spunk se salvou do ataque do rádio, o pato de borracha, ele sim, caiu fora da banheira assim que o rádio bateu na superfície, e assim ficou sendo o único sobrevivente, Alice nem gerou, morreu eletrocutada rapidamente, seu rosto distorcido deu um ultimo suspiro, o mais engraçado foi o som de um telefone gigante que estava dentro do banheiro e tocava ensurdecedoramente, uma palavra difícil, mas aconteceu... com esse som ela acordou em um pulo, estava suando e já estava escurecendo, spunk sobre a cama miando, ela olhou ao redor e lembrou de tudo que aconteceu, trabalhar, cara louco, demissão, seu Joércio e o pato de borracha.
Atendeu o telefone:
- Alô?.. sim sou eu.. é.. ahh.. tudo bem não tem problema, mas hoje eu não vou mais tá bom? amanhã eu apareço aí... é, obrigada.."
"O Nome é Alice, desculpe por ontem, ela já foi demitida..."
A partir daquela visita ao tal "bar circular" a vida de Tom mudou muito, agora ele só conseguia pintar quadros com mulheres e sua mente se recusava a pensar em outra coisa, a terra dos sonhos só tinha uma mulher, sem rosto, mas era ela, a garota do bar que ele nem conhecia mas que deveria encontrar, ele foi para o bar conversar com Joércio e saiu de lá com o pulso doendo, mas isso não era nada perto da dor que Joércio sentia, foi espancado pelo Tom, quanta violência, ele era mesmo louco, Joércio até resolveu ligar para Alice e readmiti-la, foi difícil levantar, o bar estava vazio mesmo e ele mandou Henrique baixar as portas, "Sim, senhor.." Henrique que chegava naquela hora e não vira o incidente pouco entendeu da situação, mas cumpriu a ordem. Joércio pegou o telefone que o Henrique trouxe e começou a discar, um dos seus dedos estavam quebrados, seu rim pulsava numa dor constante e sua urina saiu com sangue durante semanas, depois de ligar pra Alice ele ligou para uma ambulância.
Já era de noite e ameaçava chover quando Suzy (uma pedestre que passava pelo local) viu um jovem viciado em crack revirar lixeiras á procura de alguma lata de refrigerante para alimentar seu vício, ela acelerou o passo, ele gritava: "ONDE ESTÁÁÁÁ???!!!!"
Suzy sentiu um aperto no coração e saiu correndo e pegou o primeiro ônibus que chegava na esquina, sentou-se ao lado de uma garota, respirava fundo, a garota perguntou:
- Está tudo bem?"
- Não, levei um susto agora, um cara noião de pedra tava revirando os lixos ali no bar!
- Nossa é o bar aonde eu trabalho, quem era ?
Suzy olhou ao redor e viu o rapaz ainda ali perto da esquina da frente, o ônibus dava a partida muito lenta e pegava pessoas que chegavam, por isso ainda deu tempo de ver o jovem se virando para o ônibus, foi uma cena assustadora, o rapaz olhou para as duas em desespero e começou a gritar coisas incompreensíveis, batia na janela, Suzy percebeu que a mão do rapaz estava cortada e sujava o vidro de sangue, berrava e praguejava: "páa. ra! o oooo.. ni buuuss.."
Suzy gritou: "Motorista anda logo, tem um marginal lá fora!"
Provavelmente não pelo seu pedido mas o ônibus arrancou com velocidade deixando pra trás o bandido que ainda tentava correr em vão atrás do ônibus."
Tom acordou na manhã seguinte a demissão, confuso sonhou com a demissão, mas achou melhor não pintar isso, foi até a cozinha, escovou os dentes na pia, gostava de escovar os dentes na pia da cozinha por causa da janela, era bem melhor que o espelho, cuspia sobre a louça suja, isso era uma vantagem de se morar sozinho. Andou o dia inteiro procurando emprego, ao voltar pra casa no fim da tarde estava lotado de papéis e cartões de propostas e mais propostas de empregos, as oportunidades eram diversas, de gerente de empresa a estrela de Hollywood, teria sido ótimo se tivesse sido assim, ao invés disso Tom voltava pra casa cansado e derrotado, nenhuma chance de emprego, como imaginava...
Tom tomou um banho e saiu, considerava que já havia trabalhado o dia inteiro, agora era hora de fazer outras coisas, mas dessa vez ele não pintaria nada, ele iría atrás da sua obsessão, ela foi demitida mas talvez ele encontre alguma pista, vai tentar chegar sem ver o Joércio e perguntar pra outra pessoa sobre Alice.
Enquanto isso Joércio, não longe dali preparava sua vingança, Joércio era um homem estratégico, dizia que a vingança era um prato melhor servido frio, sábias palavras, ou talvez não tão sábias, talvez ele tenha roubado de algum filme ou livro, de qualquer forma ele ia por essa filosofia á prova, deixou a espingarda de cano serrado escondida sob um pano no colo, na cadeira de rodas não era difícil esconder a arma, uma arma de bandido, dessas que tem nos videogames e se chamam "shotgun", Nem Deus sabe aonde Joércio conseguira esse artefato, também ninguém sabe como ele aprendeu a atirar, ou melhor, se ele saberia atirar com aquela coisa, de qualquer forma já estava tudo pronto, sentia que o cara louco ia voltar, esperou até agora ao entardecer, Alice por sua vez achou ótimo o louco não dar as caras por ali, ela foi saindo pois já estava na hora, "Boa noite, seu Joércio.. e vê se vai pra casa.. desiste dessa idéia.."
Tom foi se aproximando e vendo as portas baixando se apressou, andou rápido, o garoto que baixava as portas quase morreu de susto e gritou: " Lá vem o louco! aquele louco de novo, ele tá correndo pra cá". Seu Joércio com reflexos de gato sacou a arma por debaixo dos panos e mirou com precisão, precisão total, mirou no rosto de Tom, tanta precisão a menos de um metro com uma espingarda cano serrado.." não vai sobrar nada.."
Tamanha precisão e facilidade no tiro não foram suficiente para corrigir a mão torta e a miopia absurda de seu Joércio.. errou tão feio que dava vergonha para 3 gerações da sua família, uma única fagulha atingiu a mão de Tom e arranhou, ele logo mudou o caminho, e correu por um beco do lado do bar, saiu na outra rua e se escondeu, o tiro o fez derrubar o livro que segurava, o mais importante de tudo, ele esperou até acalmar um pouco, não demorou nem meia hora, os vizinhos levaram o Joércio embora antes que ele se matasse ou matasse algum filhote de pombo com toda aquela pontaria e talento para o tiro.
Tom logo voltou pelos arredores do bar e começou a revirar tudo, até o lixo, não encontrava.. isso era terrível, ele começou a gritar: "ONDE ESTÁÁÁÁ???!!!, não encontrou, foi andando pelos cantos das paredes e muros e logo viu que já estava longe demais, perto do ponto de ônibus, então viu o ônibus saindo devagar, e na janela estava a visão mais linda que ele já conheceu, era ela, Alice, estava ali, tão perto, mas se distanciando, melhor correr.. Ficou batendo na janela do ônibus e gritando para que o motorista parasse, mas não adiantou nada, logo já estava longe demais, começou a sentir a dor na mão e notou que estava sangrando, foi pra casa respirando fundo.
Alice sentada na janela ainda olhava assustada, pois sabia muito bem quem era o rapaz que Suzy lhe falava, era o louco que foi no bar aquele dia, estava sangrando, será que o Joércio acertou ele? "Mas o inútil do Joércio nem conseguiu matar o cara?"
ali nascia uma nova amizade entre a tal de Suzy e Alice, viraram grandes amigas e compartilhavam muitos segredos até o fim de seus dias mais felizes e coloridos que se pode imaginar, e assim viveram felizes... Eu bem que gostaria que fosse assim, e de fato elas viraram conhecidas, mas amigas jamais, não era hora pra se confiar em ninguém, qualquer um poderia ser um assassino, um psicopata pronto pra matar, então não era hora de fazer amigos, Alice tentou não conversar muito, fingiu que ia ler uma coisa quando notou algo: Seu pequeno livro que comprara hoje de manhã de um sem-teto de olho torto que vendia pequenos livros de conto no trem, o livro parecia péssimo, ela comprou por pena do garoto, se chamava "os olhos da colina".. um nome ruim e sem impacto.. eu admito, mas foi assim que aconteceu, porém, Alice nem se preocupava tanto, exceto pelo fato de que sem o livro teria que agüentar as fofocas da sua recém-amiga, recém-revelada super chata.
Agora cada passo na vida de Alice e Joércio seria perigoso, Alice não iría trabalhar no outro dia, o melhor mesmo era fechar o bar na opinião dela, mas ela não foi e disse que estava doente.
Agora que Alice não foi trabalhar poderemos conhecer melhor sobre ela, pois no trabalho ninguém vive, nem se pode ser avaliado.
Alice gostava de pintar quadros, normalmente baseados em sonhos lúcidos, só não gostava de ter que correr nos sonhos, pois isso era tarefa difícil, ela fumava e gostava do cheiro da pólvora de fósforo queimando, mas não o da madeira, só o cheiro inicial da pólvora, Alice odiava quando entrava fumaça nos olhos e sempre arrancava o selo de "I.P.I." antes de tirar o primeiro cigarro da caixa. Mas voltando a nossa terrível e triste história, Nesse dia Alice ficou em casa desenhando e pintando, e foi um dia feliz, até a hora em que o mal bateu a sua porta, já no fim do dia, o clima estava escuro, o céu cinzento, a campanhia tocou profundamente, parecia anunciar a tragédia, Alice também pressentiu, abrindo as portas devagar com muito medo... a figura se revelou por fora das grades do portão, era nada mais nada menos que, inacreditavelmente... o seu namorado!
- Que surpresa!!
De fato era uma surpresa, algo inacreditável pois o rapaz não aparecia por lá a umas semanas...
- Eu vim te ver, fiquei sabendo dessas coisas loucas que tão acontecendo com você!
- Ah! obrigado!
Alice deu um abraço demorado ali mesmo no portão e depois entraram, a noite continuava feliz e agora Alice estava mais segura.
Tom voltou ainda desacreditando tudo que ocorrera até ali, na volta recuperou o livro que estava no lugar mais óbvio mas que ele ficou com medo de chegar perto, estava bem aonde ele levou o tiro, antes de chegar no bar e ser recebido a tiros por Joércio, Tom encontrara esse livro perto do bar, ele sabia que era da Alice pois aquele livro, por incrível coincidência havia sido escrito por ele, imaginou que Alice teria comprado no trem, via-se claramente o destino agindo sobre o casal de apaixonados, e ainda mais nítido isso ficou quando um papel caiu de dentro do livro, o coração de Tom apertou, ao virar o papel era uma conta de luz, era a primeira vez que Tom ficava feliz ao ver uma conta, apesar de ser um pouco cara, Havia o nome mais lindo que seus ouvidos já ouviram, mesmo saindo da boca de um homem feio e barbudo chamado Joércio que ele espancaria em seguida, havia também, logicamente, os dados, Tom não pensou em pagar a conta, mas ficou pensando se deveria ir ou não até lá...
Essas reflexões e decisões de Tom levaram o dia inteiro de pintar, ouvir música, cheirar a conta e sentir o perfume de Alice, na verdade ele não sentia nada além do cheiro de fezes e lixo, de onde ele encontrou o livro, quando ele estendia o livro no nariz, dava pra se ver uma mancha marrom nas costas do papel.
Já no fim da tarde ele finalmente decidiu, levantou-se pegou a conta e o livro: "Vou lá, invento qualquer coisa, sei lá devolvo o livro e a conta.."
Saiu de casa, fechou a porta, verificou o numero na conta, "é.. isso mesmo... é.."
Não demorou a achar a rua, os números foram chegando perto, estava perto.. e de repente achou, no momento que ia atravessar a rua um carro encostou bem em frente a casa de Alice, de dentro saiu um rapaz com a aparência mais arrogante e odiosa de todo mundo, Tom o reconheceu como seu inimigo natural, o ódio escorreu misturado ao suor na sua testa, começou a tremer, apertou as mãos. O rapaz desceu e apertou a campanhia, nessa hora a cena na visão de Tom se dividido entre uma área escura e nojenta aonde estava seu rival e uma área divina, branca e luminosa aonde aparecia o rosto de Alice, abrindo a porta devagar, demonstrando surpresa e alegria.
Mas o dia acabava ali, "que estúpido!", como ele foi pensar que aquela garota inacreditável iría estar por aí andando sem namorado, nunca é como nos filmes, ele logo deu meia volta e foi pra casa beber, usar drogas e afogar as mágoas pintando quadros de ódio e sofrimento, logo ele que só bebia por gosto e só pintava quadros de sonhos felizes, o amor era estranho mesmo, era próximo demais do ódio, ele começou a filosofar e escrever coisas idiotas e suicidas na parede, logo ele que nunca pensava em se matar, que adorava a vida, de repente dormiu entorpecido e não sonhou, dormiu como uma pedra, logo ele que não perdia um sonho..
Alice sentiu um ar inseguro e confuso no seu namorado que nem mesmo quis se sentar, ela perguntou se estava tudo bem, ele fugiu do assunto e disse que precisava conversar, o que mais poderia falar? Alice era esperta e sensível demais, só olhar e as meias palavras já eram suficientes, saiu naquela noite com uma estranha sensação, pois não se sentia tão triste por ele, mas se sentia rejeitada e mal valorizada, depois de semanas ele volta pra acabar com tudo, que terrível, ela saiu para dar uma volta e foi parar em um bar, mas não aquele aonde o velho Joércio foi espancado, era um bar diferente cheio de drogados e prostitutas, Alice nem notou isso ao entrar, só percebeu um rapaz desenhando sem parar um desenho rabiscado, sentiu vontade de conversar com ele, ele estava de óculos escuros e escondendo o rosto, ela se sentou ao lado dele olhando o desenho, tentou puxar assunto ele nem virou a cabeça, devia estar drogado, estava escondendo os sinais disso, ela viu pouco do rosto dele ele nem parou de pintar, ela olhou e falou:
- ah.. eu também gosto de pintar..
Nessa hora o sujeito se virou e olhou pra ela, ela deu um pulo ao reconhecer que era o bandido que perseguia ela e o bar onde ela trabalhava, pensou em correr, foi indo pra trás e ele retirou o óculos, ela sentiu a profundidade da tristeza no rapaz, teve mais pena do que medo e achou que ele era quem deveria ser salvo, ela falou que ele era o maníaco e perguntou porque ele fazia isso, ele não conseguia falar direito, puxou o livro com a Conta e entregou pra ela. ela ficou abismada, gaguejou algumas palavras e perguntou:
- Quem é você ?
Ele olhou pra ela, sentia a esperança retornar, de repente até a bebedeira e os efeitos das drogas passavam, tudo ficava claro e iluminado, tratava-se de um sonho lúcido, ele não saiu de casa naquela noite, estava sonhando com a mulher da sua vida, "num bar desses?" era impossível, ele teve vontade de rir e ficou pensando quando o sonho tinha começado, se tivesse começado a mais tempo então seria ótimo pois toda aquela coisa de namorado no portão não teria acontecido, mas não poderia, ele hesitou, sentiu que aquilo do namorado era verdade, que o sonho começou depois que ele foi pra casa encher a cara, o brilho da cena se apagou, ele olhou pros lados confuso, "quem é você?" continuava a voz suave a perguntar, ela parecia um anjo naquele lugar podre, tinha vindo pra salvá-lo, ele apontou o nome do autor do livro e disse, eu sou o Tomas Trevor, é nome artístico..
Alice impressionava-se cada vez mais com o jovem drogado, sujo e violento, sentia que tudo aquilo tinha a ver com ela de alguma forma, ela ficou olhando profundamente para Tom, e derrepente ele se levantou gritando:
- AAAAAHH EU QUERO ACORDAR!!! NÃO AGUENTO MAIS SONHAR COM ESSA MULHER!!!
Assim ele saiu correndo e Alice ficou horrorizada, "ele é mesmo muito louco esse cara.", Tom empurrou umas pessoas e correndo até a saída empurrou o segurança e saiu pra rua, começou a vomitar sem parar, sua visão escureceu, logo atrás Alice veio para ajudá-lo e parou de súbito na porta do bar ao ver a última cena que seria pintada na sua vida, Tomás estava no chão, um caminhão enorme de lixo ao seu lado, a cena da tragédia havia qualquer coisa de familiar para Alice, uma sensação de Dejá-Vu, ela sentiu vontade de chorar, mas não sabia porque, ela nem mesmo conhecia o sujeito louco, mas mesmo assim ela sentiu que o conhecia desde pequeno, era uma parte dela se destruindo debaixo daquele caminhão da Emlurb.
Alice nunca mais tomou banho de banheira, nem pintou quadros, nem ligava mais para o selo do I.P.I.
Seu Joércio riu ao ouvir a história, tamanha falta de percepção fez com que Alice partisse naquela hora, o velho não percebia a tristeza dela? não entendia nada..E ela mesma não entendia nada, era só um estranho que havia morrido e ela por algum motivo não queria ficar naquela cidade, falou com sua mãe juntou o dinheiro que havia economizado desde a adolescência para o intercâmbio na Europa, a mãe dela completou e ela embarcou depois de umas semanas, chorou no avião, ao desembarcar na França lembrou de algo que sempre quis fazer com o seu grande amor um dia, mas agora ela faria sozinha, pois jamais se apaixonaria de novo, ela sabia que o homem da sua vida estava morto por um caminhão de lixo e ela nem sabia seu nome, o que ela sempre sonhou em fazer estava num bar chique no sul da França, ela entrou no bar e pediu uma taça de vinho, sentou na mesa e deu um gole olhando para o céu encoberto e sentindo o sol ameno do fim de tarde da França.
Tom poderia ter feito muitas coisas diferentes no dia 15 de janeiro de 2007, seria um dia perfeito talvez, ou quem sabe não, a seqüência de fatos já se encaminhava para tudo isso, talvez fosse a necessidade do amor se mostrar, na hora em que passou pela porta daquele bar, Tom não era nenhum bêbado pra ser parado por um bar logo de manhã, no entanto, o jovem Tom teoricamente não deveria estar ali naquela hora, mas ao mesmo tempo era a hora e lugar perfeitos para duas almas gêmeas se encontrarem, corações entrariam em chamas, momentos inesquecíveis e todo tipo de coisa melosa pra se dizer num romance em uma hora dessas, mas não serei tão mal com vocês caros leitores, o titulo do livro, ele mesmo não engana, sabemos que por mais feliz que o momento possa parecer, a seqüência de fatos nos levará para uma desgraça que passará por drogas, armas, roubos, violência, e claro: corações partidos..
Ninguém dava bom dia, nem sorria, a Senhora Prestativa fingia varrer a calçada pra impressionar o chefe, como fazia todas as manhãs, um clima meio chato hoje no ambiente, não era pelos montes de lixo e vinho que ninguém limpou, "a senhora prestativa devia estar varrendo isso, cadê o Tom pra varrer essa merda?” Esse era o chefe fazendo uma pergunta retórica, Havia despedido o Tom a alguns segundos,quase dava pra ver ele saindo pela porta, andando pela rua, precisamente no meio dela, não se tratava de suicídio, como a fama de Tom poderia sugerir, esse era o exato momento que tom atravessava a rua e ía andando até chegar em um outro bar, não, Tom não estava prestes a encher a cara para afogar as mágoas, pois Tom jamais bebia por desgosto, mas aquele bar ele nunca havia notado, talvez porque nunca tinha voltado pra casa a pé naquela hora, mas isso não mudava o fato de que o bar estava lá e Tom parou diante da porta aberta olhando para a placa da frente estava escrito “Bar Circular”, um nome idiota, eu sei, mas eu devo contar a historia como ela é, Tom entrou no bar olhando ao redor e foi até o balcão: " me dá um café, porra!" A atendente se virou e nesse momento os pombos esvoaçaram do telhado e ganharam o céu azul, as flores de verão se abriram mostrando um vermelho vivo, para a multidão de pedestres que cruzavam a calçada e nem as notavam, tudo desmoronou e se reconstruiu mais perfeito na vida de Tom, seu coração batia com objetivos maiores e milhões de imagens de uma vida perfeita ainda para acontecer passaram diante de seus olhos, tudo acontecia em câmera lenta, como num sonho, e era mesmo em câmera lenta, dava pra notar no gato da casa da frente que pulava de um muro para o chão para agarrar um pombo filhote, era mesmo um dia surreal, aonde já se viu um pombo filhote? e ainda na calçada a mercê de um gato que pula em câmera lenta...
Talvez eu não esteja me expressando bem, pois esse é o momento cume da história, aí que começa nossa linda história de roubo, morte, violência e claro.. corações partidos...milhões deles.
Mas por enquanto não se preocupe, você só precisa saber alguns detalhes sobre nosso... “herói”. Tom tinha uma mente muito ativa e criativa, e também era muito observador, gostava de lembrar-se dos sonhos e passou bastante tempo estudando técnicas para não esquecê-los, uma delas era acordar assim que sonhava, sair da cama, pensar, anotar palavras chaves, parece mesmo uma obsessão de alguém perturbado com tendências suicidas, odiava quando via o sonho passar alienadamente e ele não percebia que era um sonho, isso era muito raro de acontecer, pois quase todos os sonhos de Tom eram lúcidos e ele podia fazer o que quisesse, não pense você que ele fazia coisas de caráter imoral e sexual, isso ele fez bastante nos tempos de criança hoje em dia ele encarava o sonho como sendo mais importante do que sua vida, não há dúvida de que era mais interessante. Mas Tom não era só o cara que varria o bar Leste, na verdade era sim, ele não passava disso, mas quando tom se libertava do emprego, ele assumia uma forma diferente, ia pra casa não mais pensando nos problemas, e as idéias começavam a rodar na sua cabeça como se fosse uma máquina pronta par fabricar arte, era um hobbysta em muitas coisas, ele gostava de pintar influenciado pelos sonhos que tanto prestava atenção, as vezes ele escrevia histórias inteiras baseadas em sonhos, dava a idéia de que ele era um maníaco obcecado pelo mundo dos sonhos, de fato, não se sabe, o contrário ainda não foi provado. Alguns dos livros e histórias ele doava para um amigo que conseguia imprimi-los e vender no trem, Tom não cobrava nada por isso, gostava de escrever e ajudava o amigo.
Sobre a atenção aos detalhes que Tom possuía, era bem peculiar, por exemplo, era o único que notava a sujeira nas garrafas velhas do bar, ou talvez os outros tivessem preguiça de notar algo tão trabalhoso. Assim Tom viu uma teia de aranha, naquela garrafa secular que estava lá desde tempos remotos quando os dinossauros ainda caminhavam sobre a terra, Tom puxou o banquinho, “ Vou limpar.. É..”
Ele subia com dificuldade e no teto havia uma corrente onde ele se apoiou e se puxou pra cima, parecia uma cena de suicídio á moda antiga, isso reforçava a imagem de louco obcecado pela morte, no entanto Tom estava apenas tentando alcançar a garrafa velha e o inseto que habitava ali,uma mão segurava a corrente e se pintava de pó cinza, a outra, a que não podia escrever segurava o pano e batia o pó quase inutilmente, foi numa dessas batidas que Tom sentiu a cadeira balançar e sua mão que não escreve acertou com força a aranha e a garrafa, de repente soltou a corrente, a cadeira deu um pulo de lado e voltou, depois balançou de novo e dessa vez deitou no chão, depois disso só se via o pano descendo com o grande objeto que descia de lado, o pescoço bateu na quina do balcão, e de súbito jorrou o tão conhecido líquido vermelho, escuro, quase negro, se espalhou pelo chão do bar, penetrando nas frestas do piso de tacos, irrecuperável perda, foi o que o chefe pensou ao contemplar a cena dramática pintada de vermelho e decorada com cacos de vidro, uma vida de 30 anos jogada fora, que tragédia, todos ficaram boquiabertos, inclusive Tom que não sofreu nenhum arranhão, ao invés disso pulou da cadeira e caiu de pé, mas não a tempo de segurar a garrafa, essa que caiu na quina do balcão e quebrou o "pescoço", o chão pintado de vermelho soltava o cheiro de vinho de marca, por pouco o sangue de Tom não se juntou ao vinho, o chefe quase se pôs a lamber o chão pra não desperdiçar tamanha relíquia, a frase saiu quase automática:
- Está despedido!!
Foi atravessando a rua e notou um papel quase voando ao vento, se abaixou e abriu, era uma espécie de bilhete, nele estava escrito, "olhe pra sua direita", ao olhar só viu os faróis se aproximando, "que filme engraçado.. é.." Tom deu um pause no filme e desligou o monitor, ainda pensava na garota do bar, tão parecida com ele, será que ela também quebraria uma garrafa? Olhou o relógio, 12:34, sua hora preferida, ele sempre olhava para o relógio quando dava essa hora, pensou em dar uma volta, apenas desculpa para ir até o bar, estava despedido não fazia sentido ficar em casa mofando, iría ao bar, veria ela de novo, falaria com ela, chamaria pra sair, jantar dar uma volta no parque, depois a pediria em namoro, ela aceitaria, faria planos, noivado, visualizava as imagens como se fosse passado, ele tirava do bolso a caixinha aveludada com a aliança e ela diria "sim.. aceito..é.." com aquela linda voz que ele ainda não tinha ouvido, casaria num campo florido, odiava igreja, ela também odiava, imaginava ele, passariam a lua de mel na Europa e beberiam vinho no sul da França numa tarde de céu encoberto e sol ameno, teriam 4 filhos, envelheceriam juntos e seriam felizes para sempre, "é.. então vou dar o primeiro passo.."
O plano de vida já estava arquitetado para Tom, e com certeza também para a garota do bar, Tom sabia que ela pensava igual a ele então certamente não precisava avisar a ela. Mas que surpresas guarda o destino, em meio a todos esses devaneios tom descia a rua mergulhado nesses pensamentos, não podia se lembrar do rosto dela, é sempre assim para a visão de alguém apaixonado, apenas se viaja no pensamento e se esquece que a qualquer momento a morte e a desgraça bate a porta destruindo tudo de bom que existe e deixando os corações partidos sangrarem pelas esquinas, foi numa dessas esquinas que Tom distraído, atravessou a rua com pressa, não notou o caminhão que ultrapassava pela contramão, dizem que ele não sentiu dor, como podem ter certeza eu não sei ao certo, aposto que nenhum deles já foi atropelado por um caminhão de lixo da Emlurb em alguma tarde de verão, a cabeça esmagada de tom espirrou restos de massa cinzenta pela rua e foi parar alguns pedaços na porta do bar onde habitava seus sonhos.. e assim acaba a balada do coração partido..
Teria sido assim, mas não passava de um desses sonhos que Tom não tem consciência, e ainda por cima ele teve que correr, e ele odeia correr nos sonhos, olhou pro relógio eram 12:34, sua hora preferida, saiu pra dar uma volta e pensar em como pagaria o aluguel.
Andando pela rua foi imaginando aonde seria possível vender um rim, ou se seria uma boa idéia roubar o cabelo de algum jovem rockeiro e vender para algum salão de beleza, talvez entrasse para o tráfico de drogas ou prostituição, qualquer opção simples e fácil que qualquer um faria numa hora dessas, chegou na esquina do sonho mas dessa vez não foi mutilado pelas rodas do caminhão, ao invés disso atravessou e entrou no bar.
O bar estava vazio, com exceção é claro dos clientes, atendentes e pessoas sentadas na mesa, Tom imaginou que a garota também havia sido despedida por quebrar uma garrafa e agora estava dando uma volta ou estava em casa dormindo e sonhando com a morte.
Voltou para a casa, a chegada era tensa, sempre havia o risco de encontrar o dono da casa cobrando o aluguel, não foi dessa vez, deixou as janelas fechadas e a musica baixa, " assim o seu barriga vai achar que eu estou trabalhando", preocupação inútil, ele poderia tocar a campanhia quando quisesse cobrar.
Spunk tentava alcançar uma bola vermelha debaixo da escada, sem conseguir tentou entrar lá de baixo, se sujando todo de lodo..
-Spunk! sai já daí!
O gato saiu correndo pra dentro de casa com as costas esverdeadas, Alice abriu o portão e foi entrando dentro de casa com a decepção no rosto, "despedida?", mal podia acreditar, nem mesmo sabia porque, não ia pensar nisso agora, foi pra dentro ainda com ódio daquele sujeito mal educado, teria sido talvez por isso a demissão, o sujeito agiu mal educadamente, ela fingiu não ouvir e se virou limpando os copos sem olhar a cara dele, o sujeito ficou paralisado com aquela cara de tonto, devia ser retardado, logo o seu Joércio ficou falando: "Alice, porra! não tá ouvindo o cliente?". Daí ela fingiu não ouvir os palavrões que ele disse e logo pôs o café, mas o rapaz tava paralisado com aquela cara de tonto... "Moço.. moço.. ela falou: moço! o café.. o seu café!"
A mesma cara de tonto e boca aberta, seu Joércio veio encaixando o pano no avental e falando: "ahh o senhor me desculpe viu.. toma o seu café.. com açúcar ou adoçante?".. Alice saiu de perto e o moço ficou olhando pra ela, levou as mãos ao café devagar e depois olhou pra o Joércio, pegando o café e levando até a boca.
Isso não parecia motivo suficiente pra demissão, mas Alice já tava estressada com aquele trabalho, então não teve outra, quebrou o pau com o Joércio.
Agora Alice chegava em casa numa hora incomum e a louça estava lá entulhada, Spunk em cima da pia tentava beber água das louças, ela nem olhou pra louça, queria mesmo era dormir, deitou-se na cama, o sono não vinha, decidido tomar um banho quente, foi para o banheiro e decidiu que hoje ela iría usar a banheira, algo incomum, a ultima vez foi a anos e Alice se sentiu estranhamente se afogando naquela banheira, desde então ela comprou um patinho de borracha á mando da sua mãe, "é pra isso que serve.. é.." Alice pensou olhando para a figura amarela boiando na água rasa, pensou em ouvir música enquanto tomava banho e fumava na banheira, pos o rádio por perto e mergulhou, a banheira já estava cheia, acendeu o cigarro e logo ouviu um miado, era o spunk entrando no banheiro, começou a subir pelas coisas e derrubava a maioria delas, Alice nem abriu os olhos, spunk decidiu brincar com o rádio que fazia um chiado estranho quando ele se aproximava, agora nessa parte você já deve estar imaginando o pior, e se imaginou parabéns, pois esse é o tipo de acidente doméstico que pode acontecer em uma história de desventuras como essa, o rádio bateu na quina da banheira antes, e se abriu, expondo os fios faiscantes que ao mergulharem na água fizeram da cena um show pirotécnico, nem spunk se salvou do ataque do rádio, o pato de borracha, ele sim, caiu fora da banheira assim que o rádio bateu na superfície, e assim ficou sendo o único sobrevivente, Alice nem gerou, morreu eletrocutada rapidamente, seu rosto distorcido deu um ultimo suspiro, o mais engraçado foi o som de um telefone gigante que estava dentro do banheiro e tocava ensurdecedoramente, uma palavra difícil, mas aconteceu... com esse som ela acordou em um pulo, estava suando e já estava escurecendo, spunk sobre a cama miando, ela olhou ao redor e lembrou de tudo que aconteceu, trabalhar, cara louco, demissão, seu Joércio e o pato de borracha.
Atendeu o telefone:
- Alô?.. sim sou eu.. é.. ahh.. tudo bem não tem problema, mas hoje eu não vou mais tá bom? amanhã eu apareço aí... é, obrigada.."
"O Nome é Alice, desculpe por ontem, ela já foi demitida..."
A partir daquela visita ao tal "bar circular" a vida de Tom mudou muito, agora ele só conseguia pintar quadros com mulheres e sua mente se recusava a pensar em outra coisa, a terra dos sonhos só tinha uma mulher, sem rosto, mas era ela, a garota do bar que ele nem conhecia mas que deveria encontrar, ele foi para o bar conversar com Joércio e saiu de lá com o pulso doendo, mas isso não era nada perto da dor que Joércio sentia, foi espancado pelo Tom, quanta violência, ele era mesmo louco, Joércio até resolveu ligar para Alice e readmiti-la, foi difícil levantar, o bar estava vazio mesmo e ele mandou Henrique baixar as portas, "Sim, senhor.." Henrique que chegava naquela hora e não vira o incidente pouco entendeu da situação, mas cumpriu a ordem. Joércio pegou o telefone que o Henrique trouxe e começou a discar, um dos seus dedos estavam quebrados, seu rim pulsava numa dor constante e sua urina saiu com sangue durante semanas, depois de ligar pra Alice ele ligou para uma ambulância.
Já era de noite e ameaçava chover quando Suzy (uma pedestre que passava pelo local) viu um jovem viciado em crack revirar lixeiras á procura de alguma lata de refrigerante para alimentar seu vício, ela acelerou o passo, ele gritava: "ONDE ESTÁÁÁÁ???!!!!"
Suzy sentiu um aperto no coração e saiu correndo e pegou o primeiro ônibus que chegava na esquina, sentou-se ao lado de uma garota, respirava fundo, a garota perguntou:
- Está tudo bem?"
- Não, levei um susto agora, um cara noião de pedra tava revirando os lixos ali no bar!
- Nossa é o bar aonde eu trabalho, quem era ?
Suzy olhou ao redor e viu o rapaz ainda ali perto da esquina da frente, o ônibus dava a partida muito lenta e pegava pessoas que chegavam, por isso ainda deu tempo de ver o jovem se virando para o ônibus, foi uma cena assustadora, o rapaz olhou para as duas em desespero e começou a gritar coisas incompreensíveis, batia na janela, Suzy percebeu que a mão do rapaz estava cortada e sujava o vidro de sangue, berrava e praguejava: "páa. ra! o oooo.. ni buuuss.."
Suzy gritou: "Motorista anda logo, tem um marginal lá fora!"
Provavelmente não pelo seu pedido mas o ônibus arrancou com velocidade deixando pra trás o bandido que ainda tentava correr em vão atrás do ônibus."
Tom acordou na manhã seguinte a demissão, confuso sonhou com a demissão, mas achou melhor não pintar isso, foi até a cozinha, escovou os dentes na pia, gostava de escovar os dentes na pia da cozinha por causa da janela, era bem melhor que o espelho, cuspia sobre a louça suja, isso era uma vantagem de se morar sozinho. Andou o dia inteiro procurando emprego, ao voltar pra casa no fim da tarde estava lotado de papéis e cartões de propostas e mais propostas de empregos, as oportunidades eram diversas, de gerente de empresa a estrela de Hollywood, teria sido ótimo se tivesse sido assim, ao invés disso Tom voltava pra casa cansado e derrotado, nenhuma chance de emprego, como imaginava...
Tom tomou um banho e saiu, considerava que já havia trabalhado o dia inteiro, agora era hora de fazer outras coisas, mas dessa vez ele não pintaria nada, ele iría atrás da sua obsessão, ela foi demitida mas talvez ele encontre alguma pista, vai tentar chegar sem ver o Joércio e perguntar pra outra pessoa sobre Alice.
Enquanto isso Joércio, não longe dali preparava sua vingança, Joércio era um homem estratégico, dizia que a vingança era um prato melhor servido frio, sábias palavras, ou talvez não tão sábias, talvez ele tenha roubado de algum filme ou livro, de qualquer forma ele ia por essa filosofia á prova, deixou a espingarda de cano serrado escondida sob um pano no colo, na cadeira de rodas não era difícil esconder a arma, uma arma de bandido, dessas que tem nos videogames e se chamam "shotgun", Nem Deus sabe aonde Joércio conseguira esse artefato, também ninguém sabe como ele aprendeu a atirar, ou melhor, se ele saberia atirar com aquela coisa, de qualquer forma já estava tudo pronto, sentia que o cara louco ia voltar, esperou até agora ao entardecer, Alice por sua vez achou ótimo o louco não dar as caras por ali, ela foi saindo pois já estava na hora, "Boa noite, seu Joércio.. e vê se vai pra casa.. desiste dessa idéia.."
Tom foi se aproximando e vendo as portas baixando se apressou, andou rápido, o garoto que baixava as portas quase morreu de susto e gritou: " Lá vem o louco! aquele louco de novo, ele tá correndo pra cá". Seu Joércio com reflexos de gato sacou a arma por debaixo dos panos e mirou com precisão, precisão total, mirou no rosto de Tom, tanta precisão a menos de um metro com uma espingarda cano serrado.." não vai sobrar nada.."
Tamanha precisão e facilidade no tiro não foram suficiente para corrigir a mão torta e a miopia absurda de seu Joércio.. errou tão feio que dava vergonha para 3 gerações da sua família, uma única fagulha atingiu a mão de Tom e arranhou, ele logo mudou o caminho, e correu por um beco do lado do bar, saiu na outra rua e se escondeu, o tiro o fez derrubar o livro que segurava, o mais importante de tudo, ele esperou até acalmar um pouco, não demorou nem meia hora, os vizinhos levaram o Joércio embora antes que ele se matasse ou matasse algum filhote de pombo com toda aquela pontaria e talento para o tiro.
Tom logo voltou pelos arredores do bar e começou a revirar tudo, até o lixo, não encontrava.. isso era terrível, ele começou a gritar: "ONDE ESTÁÁÁÁ???!!!, não encontrou, foi andando pelos cantos das paredes e muros e logo viu que já estava longe demais, perto do ponto de ônibus, então viu o ônibus saindo devagar, e na janela estava a visão mais linda que ele já conheceu, era ela, Alice, estava ali, tão perto, mas se distanciando, melhor correr.. Ficou batendo na janela do ônibus e gritando para que o motorista parasse, mas não adiantou nada, logo já estava longe demais, começou a sentir a dor na mão e notou que estava sangrando, foi pra casa respirando fundo.
Alice sentada na janela ainda olhava assustada, pois sabia muito bem quem era o rapaz que Suzy lhe falava, era o louco que foi no bar aquele dia, estava sangrando, será que o Joércio acertou ele? "Mas o inútil do Joércio nem conseguiu matar o cara?"
ali nascia uma nova amizade entre a tal de Suzy e Alice, viraram grandes amigas e compartilhavam muitos segredos até o fim de seus dias mais felizes e coloridos que se pode imaginar, e assim viveram felizes... Eu bem que gostaria que fosse assim, e de fato elas viraram conhecidas, mas amigas jamais, não era hora pra se confiar em ninguém, qualquer um poderia ser um assassino, um psicopata pronto pra matar, então não era hora de fazer amigos, Alice tentou não conversar muito, fingiu que ia ler uma coisa quando notou algo: Seu pequeno livro que comprara hoje de manhã de um sem-teto de olho torto que vendia pequenos livros de conto no trem, o livro parecia péssimo, ela comprou por pena do garoto, se chamava "os olhos da colina".. um nome ruim e sem impacto.. eu admito, mas foi assim que aconteceu, porém, Alice nem se preocupava tanto, exceto pelo fato de que sem o livro teria que agüentar as fofocas da sua recém-amiga, recém-revelada super chata.
Agora cada passo na vida de Alice e Joércio seria perigoso, Alice não iría trabalhar no outro dia, o melhor mesmo era fechar o bar na opinião dela, mas ela não foi e disse que estava doente.
Agora que Alice não foi trabalhar poderemos conhecer melhor sobre ela, pois no trabalho ninguém vive, nem se pode ser avaliado.
Alice gostava de pintar quadros, normalmente baseados em sonhos lúcidos, só não gostava de ter que correr nos sonhos, pois isso era tarefa difícil, ela fumava e gostava do cheiro da pólvora de fósforo queimando, mas não o da madeira, só o cheiro inicial da pólvora, Alice odiava quando entrava fumaça nos olhos e sempre arrancava o selo de "I.P.I." antes de tirar o primeiro cigarro da caixa. Mas voltando a nossa terrível e triste história, Nesse dia Alice ficou em casa desenhando e pintando, e foi um dia feliz, até a hora em que o mal bateu a sua porta, já no fim do dia, o clima estava escuro, o céu cinzento, a campanhia tocou profundamente, parecia anunciar a tragédia, Alice também pressentiu, abrindo as portas devagar com muito medo... a figura se revelou por fora das grades do portão, era nada mais nada menos que, inacreditavelmente... o seu namorado!
- Que surpresa!!
De fato era uma surpresa, algo inacreditável pois o rapaz não aparecia por lá a umas semanas...
- Eu vim te ver, fiquei sabendo dessas coisas loucas que tão acontecendo com você!
- Ah! obrigado!
Alice deu um abraço demorado ali mesmo no portão e depois entraram, a noite continuava feliz e agora Alice estava mais segura.
Tom voltou ainda desacreditando tudo que ocorrera até ali, na volta recuperou o livro que estava no lugar mais óbvio mas que ele ficou com medo de chegar perto, estava bem aonde ele levou o tiro, antes de chegar no bar e ser recebido a tiros por Joércio, Tom encontrara esse livro perto do bar, ele sabia que era da Alice pois aquele livro, por incrível coincidência havia sido escrito por ele, imaginou que Alice teria comprado no trem, via-se claramente o destino agindo sobre o casal de apaixonados, e ainda mais nítido isso ficou quando um papel caiu de dentro do livro, o coração de Tom apertou, ao virar o papel era uma conta de luz, era a primeira vez que Tom ficava feliz ao ver uma conta, apesar de ser um pouco cara, Havia o nome mais lindo que seus ouvidos já ouviram, mesmo saindo da boca de um homem feio e barbudo chamado Joércio que ele espancaria em seguida, havia também, logicamente, os dados, Tom não pensou em pagar a conta, mas ficou pensando se deveria ir ou não até lá...
Essas reflexões e decisões de Tom levaram o dia inteiro de pintar, ouvir música, cheirar a conta e sentir o perfume de Alice, na verdade ele não sentia nada além do cheiro de fezes e lixo, de onde ele encontrou o livro, quando ele estendia o livro no nariz, dava pra se ver uma mancha marrom nas costas do papel.
Já no fim da tarde ele finalmente decidiu, levantou-se pegou a conta e o livro: "Vou lá, invento qualquer coisa, sei lá devolvo o livro e a conta.."
Saiu de casa, fechou a porta, verificou o numero na conta, "é.. isso mesmo... é.."
Não demorou a achar a rua, os números foram chegando perto, estava perto.. e de repente achou, no momento que ia atravessar a rua um carro encostou bem em frente a casa de Alice, de dentro saiu um rapaz com a aparência mais arrogante e odiosa de todo mundo, Tom o reconheceu como seu inimigo natural, o ódio escorreu misturado ao suor na sua testa, começou a tremer, apertou as mãos. O rapaz desceu e apertou a campanhia, nessa hora a cena na visão de Tom se dividido entre uma área escura e nojenta aonde estava seu rival e uma área divina, branca e luminosa aonde aparecia o rosto de Alice, abrindo a porta devagar, demonstrando surpresa e alegria.
Mas o dia acabava ali, "que estúpido!", como ele foi pensar que aquela garota inacreditável iría estar por aí andando sem namorado, nunca é como nos filmes, ele logo deu meia volta e foi pra casa beber, usar drogas e afogar as mágoas pintando quadros de ódio e sofrimento, logo ele que só bebia por gosto e só pintava quadros de sonhos felizes, o amor era estranho mesmo, era próximo demais do ódio, ele começou a filosofar e escrever coisas idiotas e suicidas na parede, logo ele que nunca pensava em se matar, que adorava a vida, de repente dormiu entorpecido e não sonhou, dormiu como uma pedra, logo ele que não perdia um sonho..
Alice sentiu um ar inseguro e confuso no seu namorado que nem mesmo quis se sentar, ela perguntou se estava tudo bem, ele fugiu do assunto e disse que precisava conversar, o que mais poderia falar? Alice era esperta e sensível demais, só olhar e as meias palavras já eram suficientes, saiu naquela noite com uma estranha sensação, pois não se sentia tão triste por ele, mas se sentia rejeitada e mal valorizada, depois de semanas ele volta pra acabar com tudo, que terrível, ela saiu para dar uma volta e foi parar em um bar, mas não aquele aonde o velho Joércio foi espancado, era um bar diferente cheio de drogados e prostitutas, Alice nem notou isso ao entrar, só percebeu um rapaz desenhando sem parar um desenho rabiscado, sentiu vontade de conversar com ele, ele estava de óculos escuros e escondendo o rosto, ela se sentou ao lado dele olhando o desenho, tentou puxar assunto ele nem virou a cabeça, devia estar drogado, estava escondendo os sinais disso, ela viu pouco do rosto dele ele nem parou de pintar, ela olhou e falou:
- ah.. eu também gosto de pintar..
Nessa hora o sujeito se virou e olhou pra ela, ela deu um pulo ao reconhecer que era o bandido que perseguia ela e o bar onde ela trabalhava, pensou em correr, foi indo pra trás e ele retirou o óculos, ela sentiu a profundidade da tristeza no rapaz, teve mais pena do que medo e achou que ele era quem deveria ser salvo, ela falou que ele era o maníaco e perguntou porque ele fazia isso, ele não conseguia falar direito, puxou o livro com a Conta e entregou pra ela. ela ficou abismada, gaguejou algumas palavras e perguntou:
- Quem é você ?
Ele olhou pra ela, sentia a esperança retornar, de repente até a bebedeira e os efeitos das drogas passavam, tudo ficava claro e iluminado, tratava-se de um sonho lúcido, ele não saiu de casa naquela noite, estava sonhando com a mulher da sua vida, "num bar desses?" era impossível, ele teve vontade de rir e ficou pensando quando o sonho tinha começado, se tivesse começado a mais tempo então seria ótimo pois toda aquela coisa de namorado no portão não teria acontecido, mas não poderia, ele hesitou, sentiu que aquilo do namorado era verdade, que o sonho começou depois que ele foi pra casa encher a cara, o brilho da cena se apagou, ele olhou pros lados confuso, "quem é você?" continuava a voz suave a perguntar, ela parecia um anjo naquele lugar podre, tinha vindo pra salvá-lo, ele apontou o nome do autor do livro e disse, eu sou o Tomas Trevor, é nome artístico..
Alice impressionava-se cada vez mais com o jovem drogado, sujo e violento, sentia que tudo aquilo tinha a ver com ela de alguma forma, ela ficou olhando profundamente para Tom, e derrepente ele se levantou gritando:
- AAAAAHH EU QUERO ACORDAR!!! NÃO AGUENTO MAIS SONHAR COM ESSA MULHER!!!
Assim ele saiu correndo e Alice ficou horrorizada, "ele é mesmo muito louco esse cara.", Tom empurrou umas pessoas e correndo até a saída empurrou o segurança e saiu pra rua, começou a vomitar sem parar, sua visão escureceu, logo atrás Alice veio para ajudá-lo e parou de súbito na porta do bar ao ver a última cena que seria pintada na sua vida, Tomás estava no chão, um caminhão enorme de lixo ao seu lado, a cena da tragédia havia qualquer coisa de familiar para Alice, uma sensação de Dejá-Vu, ela sentiu vontade de chorar, mas não sabia porque, ela nem mesmo conhecia o sujeito louco, mas mesmo assim ela sentiu que o conhecia desde pequeno, era uma parte dela se destruindo debaixo daquele caminhão da Emlurb.
Alice nunca mais tomou banho de banheira, nem pintou quadros, nem ligava mais para o selo do I.P.I.
Seu Joércio riu ao ouvir a história, tamanha falta de percepção fez com que Alice partisse naquela hora, o velho não percebia a tristeza dela? não entendia nada..E ela mesma não entendia nada, era só um estranho que havia morrido e ela por algum motivo não queria ficar naquela cidade, falou com sua mãe juntou o dinheiro que havia economizado desde a adolescência para o intercâmbio na Europa, a mãe dela completou e ela embarcou depois de umas semanas, chorou no avião, ao desembarcar na França lembrou de algo que sempre quis fazer com o seu grande amor um dia, mas agora ela faria sozinha, pois jamais se apaixonaria de novo, ela sabia que o homem da sua vida estava morto por um caminhão de lixo e ela nem sabia seu nome, o que ela sempre sonhou em fazer estava num bar chique no sul da França, ela entrou no bar e pediu uma taça de vinho, sentou na mesa e deu um gole olhando para o céu encoberto e sentindo o sol ameno do fim de tarde da França.